quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A verdade sobre a mentira (Por Paula Rego)


"Porque facilidade pra escrever, e escrever bem, não é dom pra qualquer um. Porque ando tão sem tempo que arrumei uma pessoa tão ou melhor do que eu nesse quesito de expressar, para me substituir hoje aqui no blog. Eu pedi um texto e o resultado final ficou fantástico. É a mais pura reflexão baseada em um olhar crítico peculiar, de uma das pessoas mais importantes da minha vida. Obrigada Paulinha. " (Nat)

Já dizia Kurt Cobain, “O pior crime é fingir.”. Quando se fala sobre mentira, fingimento ou algo que o valha, chovem especialistas dando as melhores fórmulas para se criar um ser humano digno e alheio a estas tentações mundanas.

A grande questão e nem sempre isso pode ser explanado em programas matutinos, é que nem todos nasceram, infelizmente, para serem dignos. Não acho que toda família tem necessariamente que ter a sua ovelha negra, mas ela existe e está aí solta pelos pastos não muito distantes da nossa casa.

Inevitavelmente sempre encontraremos um mentiroso pelo caminho, um falsário, uma pessoa que conta meias verdades ou ainda pessoas mais desprovidas de inteligência (sim, para se mentir há que se ter inteligência e alguma sagacidade), que mentirão descaradamente se colocando na seara do ridículo e podendo virar motivo de chacota em menos de 05 minutos, bastando apenas a mentira ser checada com alguma fonte confiável.

Na verdade, virar motivo de chacota é o que pode acontecer de melhor ao mentiroso. A lista de conseqüências trágicas não tem fim. Ele está facilmente fadado ao isolamento em grupo social, à solidão e à incredibilidade total em todos os campos. Listei essas três possibilidades como iniciais, porque os desdobramentos podem ser vários e muito piores ainda do que possa supor a nossa vã filosofia.

Há os mentirosos do bem, que contam alguma coisa para camuflar um fato ou modificá-lo, de modo que ele não se torne pesado para alguém que poderia se ferir com ele. Mas esses são mais raros do que os habitantes do Acre.

Mas o que será que leva alguém a mentir? Necessidade de se criar uma realidade inventada, muito melhor do que a imposta pela vida? Ou será um prazer inenarrável que não se traduz e que se faz cada vez maior? Ou ainda um golpe a ser dado em alguém?Salvo a última opção, que eu acho a mais indigna de todas, eu ainda voto pela necessidade de criação de realidade.

Os mentirosos de plantão em geral não se aceitam, podem ter problemas de auto estima, dificuldade de relacionamento, problemas sérios de ordem familiar e outras tantas mazelas que podem estar presentes e enraizadas nessas criaturas. Mas seja por alguma dessas características, seja por prazer, ou seja por necessidade de levar alguma vantagem; a mentira é predominantemente uma atitude imbecil. Explico: como diz a sabedoria popular, ela tem perna curta. Pode ser descoberta com a mesma facilidade que temos em andar para frente. O corpo fala enquanto alguém mente. Emitimos uma série de sinais facilmente identificáveis para alguém que tenha, simplesmente, os dois neurônios conectados. E revela por trás do Pinóquio, uma pessoa desequipada para viver em sociedade.

Como confiar em alguém que já flagramos mentindo repetidas vezes?Como crê-la uma boa opção para companhia? Como travar um diálogo?Sim, porque por mais tolo que o diálogo venha a ser, é necessário dar credibilidade ao que se é dito e desta forma, convenhamos, é impossível. E se for, novamente, por uma questão de inadequação com a própria vida, convém buscar mecanismos de se viver com o que está posto, do que fingir que se vive de forma altamente duvidosa.

É lamentável ver alguém mentindo para tentar se fingir de feliz, de bem resolvido, de bem sucedido. Mais triste do que isso é quando esta criatura cria uma realidade paralela, na qual acredita, se alienando do mundo e se projetando para uma realidade inexistente. Não quero ser perversa, mas esse tipo de situação é tão deprimente que chega a dar gosto de ver.

(Paula Rego)

 
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